Sociedade das Almas Perdidas

Ultimamente não se vê por aí seres humanos; o que encontramos nas vastas terras são os profanos, habitantes das alturas de ferro, e fantoches, trancados nos quartos escuros por trás das cortinas que não querem remover. O que resta, então, são os hereges, as almas perdidas, rondando nos exterior das torres, em derredor do imenso campo enevoado. Onde estão as fronteiras? Onde está o limite? Quando se chega ao além, ao incognoscível?

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Local: Belém, Pará, Brazil

segunda-feira, novembro 22, 2004

Não Mandeis Ladrilhar!

“O Universo requer a eternidade... por isso afirmam que a conservação deste mundo é uma perpétua criação e que os verbos ‘Conservar e Criar’, tão contrastantes aqui, são sinônimos no céu.”

JORGE LUIS BORGES
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Depois de algum tempo sem postar, vai este poema mesmo, de versos livres e sem rima, mas deixa. A citação acima do Borges, do livro "História de la Eternidad", pareceu adequada ao tema.
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Não Mandeis Ladrilhar!


Não é vossa esta rua, esta rua demasiado cheia de brilhantes,
Mas sem fumaça, sem rubras chamas decadentes,
Não é vosso este esplêndido, onipresente verde
Sobre as castanhas trilhas do infinito.

Não derrubeis os vastos continentes superiores,
Os continentes sessenta metros acima da terra;
Não provoqueis tal genocídio, profanação,
Maldito extermínio biogenético generalizado.

Se dizeis que universal é o patrimônio,
Cuidai dele como os bons Princípios
Cuidam deste imensurável universo
E cuidam bons progenitores de seus filhos.

Mas não sois bons pais. Sois irresponsáveis
Demais para a grandeza de vossas crianças,
As ainda insuperáveis vozes da Inocência
Original, sem o suposto dom de vossas vidas.

Ignorando a vossa hedionda presença
E vossas mãos sempre ávidas por morte,
Por devastação, pela ruína, pela glória,
Erguendo vossas construções por toda parte.

Insensatos, tentando distorcer as tais crianças
Segundo a vossa própria pérfida mesquinharia,
Segundo o movimento mortal de vossas mãos,
Que conduzem a devastadora orquestra.

A pequenez de vossas almas não consegue
Compreender o oculto valor do que está velado
Por trás de cada uma daquelas folhas
Aqui, acima, abaixo, atrás, adiante.

Não é o desejo das crianças construir
Grandes e férreas estruturas sob o céu cinzento,
Extinto céu, horrendas nuvens tóxicas
Chovendo sobre trilhas fumegantes.

Banidas foram todas as aves sobre a terra,
Nenhum canto é ouvido na primavera silenciosa--
A nenhum condor restou a liberdade;
Nem fênix mais ressurge de suas cinzas.

Foram todos os continentes superiores derrubados,
Cinzas ao vento, flamas em tempestade.
Onde está agora aquele antiqüíssimo Bosque
No qual outrora as crianças costumavam brincar?

domingo, novembro 07, 2004

O ILUSIONISTA

Na falta do que postar, vai mesmo esta coisa estranha e bem conveniente.
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O Ilusionista



Indefinidos dons, deslocamentos,
Sensação de algo estranho, diferente,
E os imperceptíveis movimentos
Feitos aqui, aos olhos bem em frente.

Projeções em mui plena claridade,
Formas, silhuetas, cores na penumbra,
Fisionomias sem realidade
E os fragmentos translúcidos da Sombra.

Sutis sensações de premonição,
Percepções dos vastos mundos internos,
Do liso atrito frágil do Verão
À rígida leveza dos Invernos.

Ecos de mil sussurros guturais,
Graves e agudas orações e ritos;
Inconsistentes timbres de animais
E a acústica ultra-sônica dos Gritos.

Processo cognitivo das visões,
Brilhos opacos, sem perspectivas--
Tenores, luzes, reverberações,
Pictóricas dimensões inativas.

Transparentes, impermeáveis texturas,
Mortais ondulações de horrendos cantos,
Vagas vibrações de umidade impura,
Visões dos vultos em seus densos mantos.

O farfalhar das folhas inodoras
Sobre o lago de esféricas Neblinas;
Reflexos dos perfis de infindas horas,
Dialetos, fogos, fragrâncias e sinas.

Descrições de ásperas áureas, magias
Leves sobre os rochosos Monumentos--
Por sua vez, sobre páginas doentias
E amaras letras de ocultos intentos.

Lentos infra-vermelhos oscilantes
Revelando a palpitação do corte
Aberto não no início-- Ainda antes
De existir toda Vida e qualquer Morte.

O crepitar das místicas fogueiras
Dispersa a claridade asfixiante
Para os confins das regiões inteiras,
Até o Além, a terra mais distante.

Distúrbios de brumas evanescentes--
Holografias de aparências calmas:
Toques das mãos estáticas dos entes
Que escutam o grito afônico das Almas.

Progressivo sabor dos sons gelados,
Introspectivo contraste já inato
Entre alturas, exaltações, enfados,
Transformações quiméricas do tato.