Sociedade das Almas Perdidas

Ultimamente não se vê por aí seres humanos; o que encontramos nas vastas terras são os profanos, habitantes das alturas de ferro, e fantoches, trancados nos quartos escuros por trás das cortinas que não querem remover. O que resta, então, são os hereges, as almas perdidas, rondando nos exterior das torres, em derredor do imenso campo enevoado. Onde estão as fronteiras? Onde está o limite? Quando se chega ao além, ao incognoscível?

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Local: Belém, Pará, Brazil

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Inestimável!...

Outro poema livre e branco aí, além de meio lúcido e meio gagá.
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Há muito tempo ganhei um presente;
E é lamentável que nunca o tenha percebido...

Jamais o considerei valioso:
No início não parecia grande,
Nem brilhante,
Nem pomposo,
Nem divertido,
Ou caro,
Ou invejável,
Ou mesmo digno.

Ah, sim, esse presente
Não parecia coisa que se ostentasse por aí...
Sequer tinha valor sentimental,
Exceto quando prestes a perdê-lo.

Não parecia único,
Nem especial,
Nem criativo,
Ou original,
Tampouco incrível,
Excelso,
E muito menos extraordinário.

Muitas vezes, admito, cogitei deixá-lo,
Entregá-lo a quem se interessasse mais,
Ou destruí-lo em plena praça pública
Na tentativa de chocar a todos.

Todos eles sabem
Que ganharam esse presente--
...Só não sabem que sabem,
E assim ficam alheios.

Que destino!...

O tempo passou brevemente
E tratou de cobrir o meu presente sob areia.
Eis que percebo estranhamente
Que me havia enganado a seu respeito!

Ah, sim, esse presente,
Entre todas as dádivas do mundo,
É a que mais se pode ostentar por toda parte...

...Pois nada é mais valioso
Que todos os céus e todas as terras,
E milhões de planos e firmamentos!

Nada consegue ser maior
Que o tempo e o espaço infinitos,
E a relatividade de todas as medidas!

Nenhum brilho é mais forte e intenso
Que o das luzes do mundo,
Refletidas na imensidão insólita dos oceanos.

Nenhuma fortuna é mais pomposa
Que a simplicidade da complexa natureza
E a justa rigidez das leis imutáveis.

Nenhum divertimento é mais inesquecível
Que a emoção de desvendar os grandes mistérios
E explorar os pontos mais ignotos do próprio retiro.

Nenhum objeto é mais caro que aquele
Que tem um valor indetrminado,
E pelo qual não se dá nem uma moeda.

O que seria, afinal, mais invejável,
Que a chance de ser o que se é
E ser o que mais se pode tornar?

Ora! O que é também mais digno
Que os atributos da suposta sapiência
E para o pensamento força e ensejo?

Esse presente é único; Recebendo não se troca,
Por isso mesmo é mais especial que qualquer artefato,
Mais criativo e original que qualquer obra-prima,
Incrível como todo milagre realizado por mãos excelsas;
O que seria então mais extraordinário?

O que mais?...
...
Ah, sim!...
...

Há muito tempo ganhei um presente;
E é lamentável que nunca o tenha percebido...