Sociedade das Almas Perdidas

Ultimamente não se vê por aí seres humanos; o que encontramos nas vastas terras são os profanos, habitantes das alturas de ferro, e fantoches, trancados nos quartos escuros por trás das cortinas que não querem remover. O que resta, então, são os hereges, as almas perdidas, rondando nos exterior das torres, em derredor do imenso campo enevoado. Onde estão as fronteiras? Onde está o limite? Quando se chega ao além, ao incognoscível?

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Local: Belém, Pará, Brazil

terça-feira, fevereiro 08, 2005

A Esfinge

O monstro fitei no meio da estrada,
Sentado sobre uma rocha, imponente--
Talvez ao seu redor não vendo nada
Que se movesse ali naquele instante

Por trás das árvores, da densa relva,
Ali naquelas afastadas matas--
Desafiador, mas vi que perscrutava
Do seu mistério vítimas incautas.

Aproximei-me e pus-me a contemplar
Aquele ser solitário e tristonho,
De impenetrável enigma, estranho ar,
E alguma névoa aparente de sonho.

Porém me pareceu inofensivo!
Em tais criaturas não vejo perigo;
Muito tempo já faz que assim eu vivo,
E mortais seres a mostrar-se instigo...

Eis que eu o avaliei de baixo ao alto,
Mas nada vi de muito interessante.
Nada de movimento, ataque ou salto
Repentino que alguém como eu espante.

Nem de longe me pareceu ameaça,
Apenas outra pedra no caminho.
“Pois bem”, pensei, “que fique ali e não faça
Nenhum gesto que eu tome por mesquinho.”

Com passos largos fui até a criatura,
A confrontá-la decidido ainda;
Os sons ecoaram pela estrada escura,
Perdendo-se na solidão infinda.

Olhei fundo nos olhos azulados,
Aparente insondável fortaleza
Protegida por mil encouraçados
E que a todo afortunado despreza.

Olhos azuis, mas que após uns momentos
(Não sei se posso afirmar com certeza)
Pareceram ficar amarelentos,
Como de uma faísca fúria acesa.

Uma mudança um tanto inesperada,
Mas que me não fez perder a coragem:
Nem desembainhei a minha espada,
Tampouco fugi por entre a ramagem,

Porque nele eu identifiquei algo
Que em mim despertou certa simpatia.
Devo dizer que até hoje ainda indago
Se aquele ser realmente me sorria...

Desci às profundezas daquela alma
Já farta de se ver atormentada
Por todas as marés; até por calma
Brisa gentil em uma hora inadequada,

Ou inimigos, pelo mundo afora,
Que execram por certo a anormalidade.
Aquilo não me faz dali ir embora,
Mas sim de ficar me deu mais vontade!

Vi em seu rosto, de mártir seu semblante,
A mágoa que de todo o mundo encerra.
Ah, sim, deveras um sinal gritante
Do quanto a humanidade lhe fez guerra.

Deve ser esta a razão pela qual
Diverte-se, vinga-se tão cruelmente:
Nunca há sido tratado como um igual;
Jamais, nem mesmo entre sua própria gente.
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Hum... algum dia vai aparecer o resto...
Por enquanto foi o deu para fazer.