Sociedade das Almas Perdidas

Ultimamente não se vê por aí seres humanos; o que encontramos nas vastas terras são os profanos, habitantes das alturas de ferro, e fantoches, trancados nos quartos escuros por trás das cortinas que não querem remover. O que resta, então, são os hereges, as almas perdidas, rondando nos exterior das torres, em derredor do imenso campo enevoado. Onde estão as fronteiras? Onde está o limite? Quando se chega ao além, ao incognoscível?

Minha foto
Nome:
Local: Belém, Pará, Brazil

domingo, outubro 21, 2007

Dia da ira (II)

Semjaza avançou um passo.
- Isso não me importa. Sou inteiramente demônio, e a vida que tive quando era anjo perdeu o vínculo com o meu eu atual. Pode publicar o que quiser, será a biografia de um anjo caído que não existe mais, ele não poderá se ofender nem ser afetado de qualquer modo por essa tolice. Talvez você tenha faltado a aula de teologia em que ensinaram esse detalhe natural. Quanto ao seu quarto de hora, creio que já terminou. Adeus, D. Rossini.
- Verá que não pode me ferir- disse depressa o arcebispo.- Se não acredita em mim, ou acredita e realmente não se importa, talvez comece a se preocupar quando souber qual é a minha fonte. Ainda temos o que conversar, e há mais coisa que preciso lhe dizer.
-Estou esperando- disse o demônio em guarda.
- Eu me precavi contra a sua teimosia, e tenho um guarda-costas que você não conseguiu burlar nem eliminar. Ele está aqui, portanto não faça nada precipitado. Quero conversar mais um pouco, e no final você estará convencido de que eu venci. Você é esperto, mas, receio dizer, não é sagaz, e se mete onde não tem capacidade para estar: na liderança dos anjos rebeldes, na cúpula da organização de Josef Sikes, enfim. Acredito que todo ser tem o dom da evolução, e me pergunto se você, agora que é demônio, evoluiu em algo. Parece-me, desculpe a sinceridade, a mesma coisa de antes.
- Sempre blefando, D. Rossini- sussurrou Semjaza-, e apelando cada vez mais para besteiras. Para começar, eu teria percebido a presença de um guarda-costas por mais escondido que ele estivesse. Sem dúvida você não entende a percepção dos demônios. E depois, se eu cheguei a essas posições, possuo algum mérito, ou não teria permanecido nelas nem um dia. Não importa. Você não pode me provocar com esses fantasmas antigos, eu já superei a maioria, e os que ainda não superei estão fora do seu alcance para usá-los contra mim.
- Se é assim, por que está se justificando, em vez de me matar imediatamente?
- Porque estou entediado, talvez.
- Entendo. Será que está farto de ser um demônio, ou não se adaptou? Gostava de como tudo era antes, apesar de suas crises? Sente-se nostálgico de algo que odiava? Se agora tem poder e grandeza, quer sentir carência e inveja outra vez? Pode dizer, sinta-se no confessionário. Quero olhar em sua alma para curá-la. Será mais proveitoso para mim um adversário forte, e não um miserável. Um grande demônio, não um cãozinho, o que você ainda não deixou de ser.
Semjaza atirou-se contra o homem, mas antes de golpear D. Rossini com a espada ele próprio sentiu um golpe que o lançou à parede e fez a arma escapar de suas mãos.
- Eu avisei que a mentira não é um dos meus vícios- disse irritado o arcebispo, e a seu lado um anjo luminoso encarava o caído Semjaza.- Mas você já conhece o meu guarda-costas, é claro. Ele reconheceu você mesmo em forma de demônio e depois de tanto tempo. Faça o favor, Azazel, não deixe este demônio sair da linha outra vez, espero vê-lo manso como antigamente.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Semjaza e sua história ficam cada vez melhor (se é que tem como =P )

E eu ainda me pergunto como foi a vida dele logo depois da rebelião e queda... quantos "herdeiros" teve...

3:14 AM  

Postar um comentário

<< Voltar