Evasão (Devaneio de um não-romântico)
Não é na torre do vício que evado,
Nem em cantos obscuros sonho apenas.
Há muito não tendo do seco enfado
Fugir, através das canções amenas.
Onde estão as exaltações dos feitos?
Foram-se? Perfeição! E quem precisa
De alguns fatores longe de perfeitos
E de uma grande ação nada concisa?
Onde estão vossos heróis? Onde estão?
Fugiram? Suspeitei desde o começo.
Eu sempre soube que seria em vão
Acreditar que tal sina mereço.
As evaporadas gotas de orvalho
Seguiram para o escuro Firmamento?
Hei de encontrar esse Destino falho
E dizer-lhe: “Fugir-te almejo e tento!”
Todas as frias, lúcidas estrelas
Sussurram diamantinas chuvas. Dores
Teriam aquelas que não podem tê-las
Olhando-lhes os olhos incolores.
Não consigo nenhum abrigo sem
Que alguém a chutes e gritos me enxote.
Existe quem saiba fazer o bem?
(Quero dizer, além do Dom Quixote...)
Vede ali o Rocinante, tão delgado,
Mas não tanto quanto eu, digo e protesto.
Digo outra vez: Não é do seco enfado
Que fujo em desventuras de molesto.
Não hei medo de morte e de destino,
Nem de cancerosa melancolia.
Impossibilidades não atino,
Mas ironias ao que não faria.
Viciosos, apartai-vos já de mim!
Monótonos, sombrios ide ser longe,
E se fordes, chegai até o fim,
Até onde nem um mais orbe tange.
Podeis rir, já passamos tempo algum
À deriva no spleen com que vos tento.
Querei sonhos cinzentos?Não tive um;
Se não há nada, sobra o pensamento.
Basta de morbidez, basta de aurora
Vermelha em praias vastas, do vazio
De quem permaneceu-- tendo ido embora
Por longa estrada afora, ao vento frio.
Que sabeis, afinal? Que sabereis?
Não sois sábios, homens, sois pragas, pestes
Conhecedoras de restritas leis
E sórdidas coisinhas que fizestes.
Pois então, vinde! Caminhemos juntos
Até o cais sem navios, portos fechados,
Falando sobre diversos assuntos
E esquecendo todos os nossos fados.
Nem em cantos obscuros sonho apenas.
Há muito não tendo do seco enfado
Fugir, através das canções amenas.
Onde estão as exaltações dos feitos?
Foram-se? Perfeição! E quem precisa
De alguns fatores longe de perfeitos
E de uma grande ação nada concisa?
Onde estão vossos heróis? Onde estão?
Fugiram? Suspeitei desde o começo.
Eu sempre soube que seria em vão
Acreditar que tal sina mereço.
As evaporadas gotas de orvalho
Seguiram para o escuro Firmamento?
Hei de encontrar esse Destino falho
E dizer-lhe: “Fugir-te almejo e tento!”
Todas as frias, lúcidas estrelas
Sussurram diamantinas chuvas. Dores
Teriam aquelas que não podem tê-las
Olhando-lhes os olhos incolores.
Não consigo nenhum abrigo sem
Que alguém a chutes e gritos me enxote.
Existe quem saiba fazer o bem?
(Quero dizer, além do Dom Quixote...)
Vede ali o Rocinante, tão delgado,
Mas não tanto quanto eu, digo e protesto.
Digo outra vez: Não é do seco enfado
Que fujo em desventuras de molesto.
Não hei medo de morte e de destino,
Nem de cancerosa melancolia.
Impossibilidades não atino,
Mas ironias ao que não faria.
Viciosos, apartai-vos já de mim!
Monótonos, sombrios ide ser longe,
E se fordes, chegai até o fim,
Até onde nem um mais orbe tange.
Podeis rir, já passamos tempo algum
À deriva no spleen com que vos tento.
Querei sonhos cinzentos?Não tive um;
Se não há nada, sobra o pensamento.
Basta de morbidez, basta de aurora
Vermelha em praias vastas, do vazio
De quem permaneceu-- tendo ido embora
Por longa estrada afora, ao vento frio.
Que sabeis, afinal? Que sabereis?
Não sois sábios, homens, sois pragas, pestes
Conhecedoras de restritas leis
E sórdidas coisinhas que fizestes.
Pois então, vinde! Caminhemos juntos
Até o cais sem navios, portos fechados,
Falando sobre diversos assuntos
E esquecendo todos os nossos fados.
1 Comentários:
Salve Sphynx!
este é meu irmãozinho, dotado de sábias palavras, para de ler cara, se nao vc via ficar louco!!1
abraços!
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