Sociedade das Almas Perdidas

Ultimamente não se vê por aí seres humanos; o que encontramos nas vastas terras são os profanos, habitantes das alturas de ferro, e fantoches, trancados nos quartos escuros por trás das cortinas que não querem remover. O que resta, então, são os hereges, as almas perdidas, rondando nos exterior das torres, em derredor do imenso campo enevoado. Onde estão as fronteiras? Onde está o limite? Quando se chega ao além, ao incognoscível?

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Local: Belém, Pará, Brazil

quinta-feira, julho 14, 2005

A Esfinge (continuação)

Aquela punir Laio não queria,
Mas sim a todo mundo causar ruína;
Sutil, traiçoeira, perigosa, esguia...
E de mistério luz quase divina,

Fúria ora reprimida, ora iminente,
Mesmo que ali presente desde o início--
E garra, e palavra ferina, e dente,
E contra corpo e alma todo artifício.

Então lhe perguntei o que sentia;
Por que aquele semblante é tão soturno?
Por que aquela expressão ao extremo fria,
Como da vida esperasse outro turno?

Por que nos olhos há raiva tamanha?
Por que no pensamento a névoa escura,
Como neblinas de uma terra estranha
Em cujos campos vida não perdura?

“Decifra-me!”, ele apenas respondeu,
“Ou carne fresca hei de te devorar,
Deleitar-me com o sangue quente teu,
Fazendo rubra a Terra como o Mar!

A menos que ainda te encontres disposto
A responder aquilo que proponho,
Enigma este que a muitos já hei imposto;
Se errares terás destino medonho!

Enigma simples, óbvio, realmente,
Mas cuja solução ninguém descobre.
Estou invicto, conquanto se tente;
Pois não há de bastar resposta pobre!”

Respondo: “Hei de aceitar com boa vontade
Jogar este jogo de vida ou morte,
Mesmo que eu morra... ou pior, me enfade,
Mas já te aviso: tenho muita sorte;

E nada temo por mim mesmo agora,
Mas é de ti que guardo alguma pena,
Caso contrário iria logo embora,
Deixando tua ira bem mais amena...

Vejo teu interior tão sem suporte...
Assim me surgem vontades intensas
De te ajudar a ser bravo, a ser forte,
Pois tu tens mais potencial do que pensas!

Acender alguma luz de bondade
Ou dar-te alívio outro ao sofrimento.
Não penses que sou mais um ser que invade,
Pois dar-te ajuda é aquilo que eu intento!

Hei de jogar, já que escolha não vejo
Que defrontar não seja esta tua ira,
A qual, percebo, não dará ensejo
De aplacar com gesto que também fira.

Não é sangue de que tu necessitas,
Mas sim compreensão, caridade, afeto,
Pois esta raiva que em ti mesmo incitas
Não te fará seguir caminho reto,

O qual, já vejo, o mundo te há negado,
Mas oportunidade eu te ofereço.
Burlemos teu ocaso malfadado!
Ah, sim, vou te ajudar a qualquer preço!”

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Bem... um dia o "Édipo" termina de falar (afinal de contas, ouvido de esfinge não é penico) e decifra isso de uma vez. Enquanto isso, nem sei u.u