A Esfinge (continuação)
Aquela punir Laio não queria,
Mas sim a todo mundo causar ruína;
Sutil, traiçoeira, perigosa, esguia...
E de mistério luz quase divina,
Fúria ora reprimida, ora iminente,
Mesmo que ali presente desde o início--
E garra, e palavra ferina, e dente,
E contra corpo e alma todo artifício.
Então lhe perguntei o que sentia;
Por que aquele semblante é tão soturno?
Por que aquela expressão ao extremo fria,
Como da vida esperasse outro turno?
Por que nos olhos há raiva tamanha?
Por que no pensamento a névoa escura,
Como neblinas de uma terra estranha
Em cujos campos vida não perdura?
“Decifra-me!”, ele apenas respondeu,
“Ou carne fresca hei de te devorar,
Deleitar-me com o sangue quente teu,
Fazendo rubra a Terra como o Mar!
A menos que ainda te encontres disposto
A responder aquilo que proponho,
Enigma este que a muitos já hei imposto;
Se errares terás destino medonho!
Enigma simples, óbvio, realmente,
Mas cuja solução ninguém descobre.
Estou invicto, conquanto se tente;
Pois não há de bastar resposta pobre!”
Respondo: “Hei de aceitar com boa vontade
Jogar este jogo de vida ou morte,
Mesmo que eu morra... ou pior, me enfade,
Mas já te aviso: tenho muita sorte;
E nada temo por mim mesmo agora,
Mas é de ti que guardo alguma pena,
Caso contrário iria logo embora,
Deixando tua ira bem mais amena...
Vejo teu interior tão sem suporte...
Assim me surgem vontades intensas
De te ajudar a ser bravo, a ser forte,
Pois tu tens mais potencial do que pensas!
Acender alguma luz de bondade
Ou dar-te alívio outro ao sofrimento.
Não penses que sou mais um ser que invade,
Pois dar-te ajuda é aquilo que eu intento!
Hei de jogar, já que escolha não vejo
Que defrontar não seja esta tua ira,
A qual, percebo, não dará ensejo
De aplacar com gesto que também fira.
Não é sangue de que tu necessitas,
Mas sim compreensão, caridade, afeto,
Pois esta raiva que em ti mesmo incitas
Não te fará seguir caminho reto,
O qual, já vejo, o mundo te há negado,
Mas oportunidade eu te ofereço.
Burlemos teu ocaso malfadado!
Ah, sim, vou te ajudar a qualquer preço!”
-------------------------------------------
Bem... um dia o "Édipo" termina de falar (afinal de contas, ouvido de esfinge não é penico) e decifra isso de uma vez. Enquanto isso, nem sei u.u
Mas sim a todo mundo causar ruína;
Sutil, traiçoeira, perigosa, esguia...
E de mistério luz quase divina,
Fúria ora reprimida, ora iminente,
Mesmo que ali presente desde o início--
E garra, e palavra ferina, e dente,
E contra corpo e alma todo artifício.
Então lhe perguntei o que sentia;
Por que aquele semblante é tão soturno?
Por que aquela expressão ao extremo fria,
Como da vida esperasse outro turno?
Por que nos olhos há raiva tamanha?
Por que no pensamento a névoa escura,
Como neblinas de uma terra estranha
Em cujos campos vida não perdura?
“Decifra-me!”, ele apenas respondeu,
“Ou carne fresca hei de te devorar,
Deleitar-me com o sangue quente teu,
Fazendo rubra a Terra como o Mar!
A menos que ainda te encontres disposto
A responder aquilo que proponho,
Enigma este que a muitos já hei imposto;
Se errares terás destino medonho!
Enigma simples, óbvio, realmente,
Mas cuja solução ninguém descobre.
Estou invicto, conquanto se tente;
Pois não há de bastar resposta pobre!”
Respondo: “Hei de aceitar com boa vontade
Jogar este jogo de vida ou morte,
Mesmo que eu morra... ou pior, me enfade,
Mas já te aviso: tenho muita sorte;
E nada temo por mim mesmo agora,
Mas é de ti que guardo alguma pena,
Caso contrário iria logo embora,
Deixando tua ira bem mais amena...
Vejo teu interior tão sem suporte...
Assim me surgem vontades intensas
De te ajudar a ser bravo, a ser forte,
Pois tu tens mais potencial do que pensas!
Acender alguma luz de bondade
Ou dar-te alívio outro ao sofrimento.
Não penses que sou mais um ser que invade,
Pois dar-te ajuda é aquilo que eu intento!
Hei de jogar, já que escolha não vejo
Que defrontar não seja esta tua ira,
A qual, percebo, não dará ensejo
De aplacar com gesto que também fira.
Não é sangue de que tu necessitas,
Mas sim compreensão, caridade, afeto,
Pois esta raiva que em ti mesmo incitas
Não te fará seguir caminho reto,
O qual, já vejo, o mundo te há negado,
Mas oportunidade eu te ofereço.
Burlemos teu ocaso malfadado!
Ah, sim, vou te ajudar a qualquer preço!”
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Bem... um dia o "Édipo" termina de falar (afinal de contas, ouvido de esfinge não é penico) e decifra isso de uma vez. Enquanto isso, nem sei u.u
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