Anjo Caído (II)
- A vida- disse-me Semjaza- não tem o sentido que você queria.
- Nunca procurei um sentido.
- Já, sim- insistiu ele-, e ainda por cima ficou amargo quando não encontrou nenhum. Mas, naturalmente, não é culpa sua se você não sabe para que vive, e a mim pouco importa.
Ele se afastou alguns passos e ficamos ambos pensativos, sem trocar olhares. Ora, quem sou eu para saber o sentido da vida, de todo modo? Quanto a Semjaza, não imaginei que ele pudesse dizer grande coisa-- a tal sabedoria que ele tinha não fosse talvez para esses questionamentos, e mesmo ele sendo arrogante como era, haveria de me dizer que simplesmente não detinha consigo a resposta. Quando isso me ocorreu, fui até ele.
- Agora vai admitir que não é onisciente?- provoquei com um risinho cínico.- Apenas diga “Sei que não sei” e prometo que não vou zombar da sua falta de espírito metodológico e científico...
Ele mandou que eu fosse a um lugar cujo nome não transcrevo aqui; não porque estivesse irritado comigo, mas sim animado com o desafio.
- Então- repeti-, qual é o sentido da vida?
Semjaza me encarou com uma frieza que eu não conhecia, e respondeu:
- A vontade de potência.
- Como?
- Poder. Esse é o sentido da vida, tanto individual quanto coletivo. A vontade de poder, um significado eterno.
- Sei...- comentei, cético.- Quer dizer que o presidente da república achou o sentido da vida quando foi posto no cargo, ou o quê?
Não gostando do meu gracejo sem graça, o anjo me acertou um golpe no ombro antes de explicar:
- Sua besta, você nem sabe o que é poder? E eu pensando que vocês humanos são as criaturas mais viciadas nele! Mas então, o que faz você se sentir feliz?
- Hum... saber que superei algum obstáculo.
- Isso é o poder, meu caro. Superar o que for e seguir adiante, e encontrar um obstáculo maior para superar igualmente; superar o que for, até a si mesmo e às próprias imposições.
- Só isso? Ufs! Decepção. Quer dizer que só vivemos para alimentar a própria vontade de potência, e que isso nos dá a sensação de poder, ou a felicidade, ou o que for? Para mim ainda soa como uma falta de sentido...
- Se você se sente frustrado nesse momento, é porque agora mesmo a sua potência foi abalada, e a vontade por ela cresceu.
- Curioso- murmurei.- E de onde vem esse abalo?
Ele ficou algum tempo em silêncio, e eu não quebrei esse estado até ouvir a voz do anjo novamente:
- Deixe eu lhe contar uma coisa...
- Nunca procurei um sentido.
- Já, sim- insistiu ele-, e ainda por cima ficou amargo quando não encontrou nenhum. Mas, naturalmente, não é culpa sua se você não sabe para que vive, e a mim pouco importa.
Ele se afastou alguns passos e ficamos ambos pensativos, sem trocar olhares. Ora, quem sou eu para saber o sentido da vida, de todo modo? Quanto a Semjaza, não imaginei que ele pudesse dizer grande coisa-- a tal sabedoria que ele tinha não fosse talvez para esses questionamentos, e mesmo ele sendo arrogante como era, haveria de me dizer que simplesmente não detinha consigo a resposta. Quando isso me ocorreu, fui até ele.
- Agora vai admitir que não é onisciente?- provoquei com um risinho cínico.- Apenas diga “Sei que não sei” e prometo que não vou zombar da sua falta de espírito metodológico e científico...
Ele mandou que eu fosse a um lugar cujo nome não transcrevo aqui; não porque estivesse irritado comigo, mas sim animado com o desafio.
- Então- repeti-, qual é o sentido da vida?
Semjaza me encarou com uma frieza que eu não conhecia, e respondeu:
- A vontade de potência.
- Como?
- Poder. Esse é o sentido da vida, tanto individual quanto coletivo. A vontade de poder, um significado eterno.
- Sei...- comentei, cético.- Quer dizer que o presidente da república achou o sentido da vida quando foi posto no cargo, ou o quê?
Não gostando do meu gracejo sem graça, o anjo me acertou um golpe no ombro antes de explicar:
- Sua besta, você nem sabe o que é poder? E eu pensando que vocês humanos são as criaturas mais viciadas nele! Mas então, o que faz você se sentir feliz?
- Hum... saber que superei algum obstáculo.
- Isso é o poder, meu caro. Superar o que for e seguir adiante, e encontrar um obstáculo maior para superar igualmente; superar o que for, até a si mesmo e às próprias imposições.
- Só isso? Ufs! Decepção. Quer dizer que só vivemos para alimentar a própria vontade de potência, e que isso nos dá a sensação de poder, ou a felicidade, ou o que for? Para mim ainda soa como uma falta de sentido...
- Se você se sente frustrado nesse momento, é porque agora mesmo a sua potência foi abalada, e a vontade por ela cresceu.
- Curioso- murmurei.- E de onde vem esse abalo?
Ele ficou algum tempo em silêncio, e eu não quebrei esse estado até ouvir a voz do anjo novamente:
- Deixe eu lhe contar uma coisa...
1 Comentários:
Interessante.
Sim, almejamos o poder.
Sphynx, me apresente este nobre anjo que adotaste.
abraços meu irmãozinho!!!
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